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Quincas Borba, resenha


vb. criado em 8/9/2008, 10h22m.


1.

O livro é azedo, pessimista, desesperador: o remate de crueldade foi matar o noivo da Tonica três dias antes do casamento. Descreve uma sociedade egoísta, cruel e impiedosa. Mas, no fim, o autor toma partido ao dar ao livro o nome do cão. No fim, quem, na opinião dele, merece a homenagem e a imortalidade é o único personagem que personifica a fidelidade, a amizade verdadeira.

2.

Sofia significa sabedoria, e não parece que alguém da estatura de Machado escolha palavras em vão.

3.

Antes de morrer Rubião entendeu o sentido do humanitismo, e por isso morre feliz. Encontrou a Sofia verdadeira, em vez da falsa que perseguiu? Se foi assim, então é vencedor e encontrou as “batatas” verdadeiras, e loucos somos nós, que as consideramos “nada”, e enxergamos o vitorioso na pessoa do Palha, possuidor das “batatas” efêmeras e enganosas.

4.

Darwinismo social: os mais aptos prevalecem, os mais fracos sucumbem, e isso é bom para Humanitas, que resta fortalecido.

5.

Quincas era mendigo, ficou milionário, depois louco. Rubião era pobre, e ficou milionário, depois louco. Dinheiro amaldiçoado?

6.

Rubião desejou o poder, o amor, a amizade e essas suas três aspirações serviram de isca para que fosse fisgado, e usado, por outros.

7.

Peculiares recursos estilísticos. Mostra Rubião no auge, para depois mostrá-lo pobre, e ao fim pobre de novo. Começa “in media res”, como a Odisséia. E a odisséia de Rubião é trágica, no sentido dantesco, porque começa feliz e acaba triste. Mas Rubião não se encaixa no perfil do herói trágico, porque não luta contra seu destino: ao contrário, deixa-se levar pelos acontecimentos, e tudo o que acontece na sua vida é fruto da casualidade, nunca de esforço seu.

8.

Difícil achar alguém com quem o leitor queira se identificar. Rubião, Palha, Sofia, Carlos Maria, Camacho, todos eles têm defeitos comuns de todos, mas que não gostamos de reconhecer em nós mesmos. Quem tem qualidades? Rubião? Mostrou bons sentimentos em várias passagens, embora sempre toldados pela sombra de algum interesse (como na imagem da canoa), ou de alguma fraqueza que o humaniza (o caso do enforcado, p.ex.). A ingenuidade dele, notadamente, é o aspecto mais irritante. Os “bons” sem mácula são os muito pobres, como o major, Tonica e a comadre, e seu destino é sempre obscuro e sem perspectiva.

Enfim, entre os bem-sucedidos corrompidos e cruéis, e os generosos mas fracassados, não sobra ao leitor um herói a quem se apegar.

9.

O tema da podridão humana é “moderno”? Hoje, pessimistas e desencantados, lemos aquilo e achamos divertido, e atual. Mas M. de A. fazia sucesso como autor popular no mesmo tempo que o livro descreve. Será que aquela gente já eram pessimista e desencantada? Não é só a podridão que é atual/constante/de sempre, como também o pessimismo e o desencanto.

10.

Paralelo entre as estrelas, indiferentes aos dramas de Rubião e companhia, e nós, leitores, indiferentes aos mesmos dramas. As estrelas são indiferentes aos nossos dramas também, como nós somos em relação aos dos personagens (Metalingüística?). As estrelas representam, na imagem, deus e coisas do gênero? É um livro ateu? Ninguém está cuidando de nós, é o que ele quer dizer?

11.

Filosofia é uma coisa, morrer de verdade é outra diferente. Por conseqüência, filosofia é uma coisa, e viver é outra diferente, também.

12.

Rubião podia ser avô de Macunaíma. Um herói sem caráter. Não é mau caráter, porque não tem forças para ser bom ou para ser mau. É fraco demais para ser honesto, e também para ser cruel como os que se aproveitam dele. É influenciável (católico e protestante, ou ateu, conforme a hora e o interlocutor), e sem uma moralidade definida, sem uma noção compreensível de certo e errado.

Carlos Maria: representa a vaidade, o egocentrismo.

Sofia: encarna a vaidade e a ambição.

13.

Estudar a trajetória de Napoleão III, porque deve fornecer alguma pista para entender a de Rubião.

Será que foi desse livro que surgiu o clichê segundo o qual todo louco pensa ser Napoleão?
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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